Convidada especial: Professora Mônica Teixeira
A ética na autoria de publicações acadêmicas é um tema que transcende a mera formalidade de listar nomes em um artigo científico; ela reflete questões profundas de integridade, responsabilidade e equidade no meio acadêmico. A definição de quem merece ser considerado autor e a ordem em que os nomes aparecem frequentemente envolvem subjetividade, acordos informais e, por vezes, disputas de poder, como apontado no artigo “Importância, definição e conflitos da autoria em publicações científicas” (Gunturiz Albarracin et al., 2020). Esses conflitos surgem especialmente quando não há clareza sobre as contribuições ou quando interesses pessoais e hierárquicos interferem, levantando a questão: até que ponto os critérios atuais, como os do ICMJE, conseguem equilibrar justiça e praticidade em um cenário de pesquisa cada vez mais colaborativo e globalizado?
Os desafios se intensificam com a complexidade das colaborações modernas, onde equipes multidisciplinares, multinacionais e até tecnologias de inteligência artificial entram em cena. O documento da “Autorship” do Committee on Publication Ethics (COPE) destaca a necessidade de políticas transparentes para definir autoria e colaborações, reconhecendo que disputas podem envolver desde a exclusão de pesquisadores de países de baixa renda até a pressão de terceiros, como empresas de edição. Já as diretrizes do ICMJE reforçam que apenas aqueles que atendem a todos os quatro critérios – contribuição substancial, revisão crítica, aprovação final e responsabilidade – devem ser autores, enquanto outros papéis, incluindo o uso de IA, ficam relegados a agradecimentos. Isso nos convida a refletir: como garantir que essas normas sejam aplicadas de forma ética e inclusiva, evitando práticas como autoria fantasma ou de cortesia?
Por fim, os conflitos de interesse adicionam outra camada de complexidade ao debate. Seja por financiamento, prestígio acadêmico ou pressões institucionais, a imparcialidade da pesquisa pode ser comprometida. A mesa redonda “Autoria e conflitos de interesse – Quem deve ser considerado autor e em qual ordem?” será uma oportunidade para explorar essas tensões, questionando como as diretrizes existentes podem evoluir para atender às demandas de um sistema acadêmico em transformação. Que mecanismos podemos propor para assegurar que a autoria reflita verdadeiramente as contribuições intelectuais, respeitando tanto a ética quanto a diversidade de contextos em que a ciência é produzida?
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